Mais um ano se inicia, e o calendário do Futebol Brasileiro começa com a apresentação dos times para a sequência de competições da temporada.
E a primeira atividade dos atletas é a Avaliação Pré-temporada conduzida pelo Departamento Médico, tendo como principal objetivo assegurar a integridade física e a saúde, para que possam suportar a rotina de treinos, jogos e viagens em diferentes competições.
O que hoje é rotina há pouco tempo não era. Casos marcantes de atletas que vieram a falecer em campo foram transmitidos pelas redes de televisão e assistidos por milhares de pessoas ao redor do mundo. A comoção causada por esses eventos dramáticos provocou uma mudança de paradigma em dirigentes de clubes e federações, atletas e equipe médica dos clubes.
Das causas mais frequentes, temos a miocardiopatia hipertrofia assimétrica, doença congênita que resulta em um aumento de uma das câmaras do coração que pode provocar arritmia cardíaca e a consequente morte súbita na atividade física extenuante.
Diversas medidas foram tomadas pelos clubes mundo afora para prevenir a morte súbita. No Brasil, a Sociedade Brasileira de Medicina do Exercicio e Esporte realizou um simpósio em 2005 para debater o tema, e aqueles clubes que não tinham protocolo de avaliação medica começaram a adotar medidas de prevenção, como as avaliações cardiológicas pré-temporada. O treinamento do suporte básico de vida por todos do clube e a compra e disponibilidade do desfibrilador externo automático em todos os locais de treino e jogos também foram adotadas pela maioria dos clubes.
Posteriormente, iniciativas como a constituição do Comitê Médico da Federação Paulista de Futebol, da Comissão Nacional de Médicos do Futebol da CBF, e a adoção do protocolo de avaliação médica da FIFA pelos Departamentos Médicos visam padronizar a avaliação médica e os cuidados na saúde dos atletas.
Em 2011, o Centro de Excelência FIFA do Hospital das Clinicas da USP sediou o Curso de Emergências Médicas, como preparação para a Copa do Mundo de 2014. Essa série de fatos consolidaram a preocupação com a saúde dos atletas, e o custo da avaliação não pode ser obstáculo para a não realização desses exames.
O desempenho atlético é fundamental para o sucesso esportivo das equipes. Nesse sentido, a avaliação ortopédica é realizada ao mesmo tempo da avaliação cardiológica, com o objetivo de detectar lesões prévias que impeçam ou diminuam o rendimento esportivo do atleta. Anamnese, exame físico por articulações e segmentos e minucioso exame físico compõe a abordagem inicial. Exames complementares de imagem como a ressonância magnética e avaliações biomecânicas e de força muscular trazem informações fundamentais para assegurar a melhor performance e prevenção de lesões.
Em 18 anos de atuação no futebol profissional, observei uma grande transformação na metodologia de treinamento. As primeiras sessões de treino eram essencialmente físicos, com altos volumes e baixa intensidade, mas sem contato com bola. As avaliações médicas e físicas duravam de 2 a 3 dias, e trazia um problema para a comissão técnica, que perdia sessões de treino em uma pré-temporada curta, abaixo do ideal devido ao calendário extenso de competições. Disso resultava em um maior número de lesões especialmente nos primeiros meses do ano.
Para minimizar esse problema, elaboramos a avaliação pré-participação por estações em nosso clube: Dividimos o elenco em grupos e em 1 dia realizamos todas as avaliações ortopédicas, cardiológicas, exames de sangue, biomecânicas, antropométricas, força muscular e de potencia e resistência aeróbica e anaeróbica. Pela manhã, os atletas apresentam-se em jejum para a coleta de exames de sangue. Após tomarem o café da manhã, o grupo é dividido em 2, sendo que pela manhã um grupo realiza teste ergométrico, ecocardiograma e avaliação clinica-cardiológica, e outro o outro grupo o teste de força isocinético, testes antropométricos, de salto vertical e metabólicos.
No período da tarde, a inversão dos grupos. Todos os testes são realizados dentro das dependências do clube, não sendo necessário o deslocamento de nenhum atleta para outros locais, resultando em eficiência e ganho de tempo. Reconheço que infelizmente essa não é a realidade da maioria dos clubes brasileiros, mas não tira a importância de realizar a avaliação pré-participação independentemente da estrutura. Que comece o jogo! Bom 2019 a todos os que trabalham e amam o Futebol.
Dr. Roberto Nishimura
Coordenador departamento de Medicina Esportiva do Mood Sports Medicine
Médico assistente do Grupo de Medicina Esportiva do Departamento de Ortopedia da PUCC
Membro da Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia
Membro da Sociedade Brasileira de Medicina do Exercício e Esporte
Cirurgião de Joelho
Coordenador Médico da Associação Atletica Ponte Preta
Membro do Comitê Médico da Federação Paulista de Futebol
Ex-médico das seleções paralímpicas de Futebol de 5 para cegos e Atletismo Paralímpico
Integrante da delegação médica nos jogos Paralímpicos de Beijing 2008 e Londres 2012
Base Camp Doctor das seleções de Portugal, Nigéria e Costa do Marfim na Copa do Mundo FIFA 2014
Graduação e residencia médica em Ortopedia FCM UNICAMP
Ex-estagiário do Grupo de Medicina Esportiva do IOT/FMUSP
Fellow em Cirugia do Joelho HCor – Prof. Dr. Rene Abdalla